Tendinite calcária é uma condição dolorosa do ombro na qual um ou mais tendões do manguito rotador apresentam deposição de sais de cálcio formados por hidroxiapatita. Esses depósitos podem ser único ou múltiplos, podendo serem vistos ou não à radiografia. Sua incidência varia entre 2 a 20% da população, sendo mais comum entre as mulheres, na faixa etária de 30 a 60 anos e praticamente inexistente no idoso. O tendão mais comumente acometido é o supraespinal , seguido pelo infraespinal e raramente encontrado no subescapular. Pode ocorrer bilateralmente (em ambos os ombros) em 10 a 20% dos casos. Estudos demonstram fraca relação com atividade física, e maior correlação ao sedentarismo.
O que causa a tendinite calcária?
Sua causa ainda é incerta, mas diversos estudos correlacionam alterações metabólicas a uma sobrecarga tendínea levando a uma diminuição da vascularização do tendão e à deposição de cálcio (calcificação).
Quais os sintomas da tendinite calcária?
A tendinite calcária quando diagnosticada costuma causar dor intensa que pode estar associada à limitação de movimento do ombro e dificuldade para as atividades do cotidiano.
A tendinite calcária sempre causa dor?
Apesar da dor ser um sintoma comum, a tendinite calcária pode ser um achado de exame, isto é, aparecer ao exame de imagem e não dar sintoma nenhum. Para entender melhor porque isso acontece, é necessário entender as fases da doença.
Sucintamente, a tendinite calcária pode ser dividida em 3 fases:
-fase pré-calcária: alteração tecidual do tendão por provável diminuição de sua vascularização. Nessa fase não costuma haver dor .
– fase calcária: em um primeiro momento, sais de cálcio são formados,não há dor nessa fase inicial e o depósito de cálcio aparece ao raio X. Alguns pacientes podem permanecer por anos nessa fase, outros podem permanecer nela indefinidamente. Num segundo momento,quando os depósitos de cálcio são reconhecidos pelo nosso organismo, ocorre intensa inflamação e reabsorção desse depósito calcário, o que alguns autores chamam de tendinite química. É nessa fase em que ocorre a dor intensa característica dessa tendinite e o depósito de cálcio se encontra pastoso, semelhante a uma pasta de dente, não sendo bem visível ao raio X. Não se sabe ao certo o porquê, mas alguns pacientes nunca passam pela fase dolorosa.
-fase pós calcária: após o período de reabsorção pode haver pouca ou nenhum dor e à radiografia o depósito calcário aparenta estar diminuindo.
Quais são os exames necessários para o diagnóstico da tendinite calcária?
Dependendo da fase em que se encontra a doença, o depósito de cálcio pode ser visível ao raio X. Ao ultra som, pode se ter uma idéia do tamanho do depósito de cálcio e de sua localização. À ressonância magnética é possível observar além do tamanho e localização do depósito calcário as lesões associadas quando existirem, como por exemplo síndrome do impacto, lesões labrais, bursite e lesões condrais.
Como é o tratamento da tendinite calcária?
O tratamento inicialmente é sintomático. Quando na fase menos dolorosa, a tendinite se assemelha a uma tendinite comum ou bursite, sendo tratada com analgésicos e anti-inflamatórios por via oral,compressa de gelo e fisioterapia. Na fase extremamente dolorosa, podem ser necessários outros recursos, como acupuntura, infiltração com anestésico e corticóide ou barbotagem. A barbotagem é um procedimento realizado por meio de ultrassom , no qual o médico realiza perfurações e lavagem do depósito pastoso com soro fisiológico, o que permite a saída do cálcio e alivia a dor. Outra modalidade de tratamento que vem tendo bons resultados nos casos refratários a essas medidas é a terapia por ondas de choque, onde sob anestesia são aplicadas ondas de choque no local do depósito de cálcio para melhora da dor.
Em casos em que nenhuma dessas medidas é suficiente para alívio da dor, após pelo menos 4 meses de tratamento com fisioterapia- alguns autores falam em 6 meses, pode ser indicado o tratamento cirúrgico.
Qual é o tratamento cirúrgico para tendinite calcária?
Como mencionado anteriormente, o tratamento cirúrgico não é o tratamento de escolha, sendo indicado na falha do tratamento conservador.
A cirurgia para tratamento da tendinite calcária é preferencialmente realizada por artroscopia (cirurgia por vídeo) e consiste na remoção do depósito de cálcio, sendo muitas vezes necessária a abertura e posterior sutura do tendão acometido. Isso se deve pela dificuldade de remoção do cálcio que se encontra entremeado às fibras do tendão e de difícil acesso. Após a cirurgia, quando há a necessidade de sutura do tendão, a reabilitação é feita de forma semelhante a uma lesão parcial do manguito rotador, por isso deve se respeitar as fases de cicatrização tendínia, durando por volta de 4 a 5 meses para alta e retorno ao esporte.