O que significa ombro do arremessador?
Arremessadores profissionais apresentam modificações na cinemática do ombro durante o movimento de arremesso. Essas modificações são decorrentes de adaptações que ocorrem com o movimento repetitivo do arremesso. Para entender melhor essas adaptações é necessário entender que o arremesso não é um movimento apenas do ombro e sim um movimento complexo que utiliza o corpo todo, desde os dedos do pé, tornozelo, joelho, quadril, coluna, tórax, ombro, cotovelo, punho e dedos da mão. Essa cadeia cinética é complexa e é por isso que os atletas arremessadores desenvolvem potência e velocidade no arremesso, podendo chegar a uma velocidade de lançamento de mais de 140km/h.
Além disso, é importante entender que o arremesso possui 6 fases distintas que duram menos de 2 segundos cada. São elas: fase de preparação, fase de passada, fase de elevação do braço, fase de aceleração onde ocorrem as modificações do ombro, fase de desaceleração e por fim, a fase de execução. Essas alterações adaptativas fazem com que o ombro ganhe maior amplitude de movimento de rotação externa em detrimento da perda de rotação interna. Esse excesso de rotação externa do ombro está acompanhado de uma frouxidão da cápsula anterior que permite esse ganho, mas para que o ombro permaneça estabilizado, ocorre uma retração na cápsula posterior e inferior o que diminui a rotação interna.
Isso tudo faz com que ocorra uma maior amplitude de movimento em rotação externa do ombro como um movimento de alavanca, levando a uma mudança do eixo da cabeça do úmero durante sua rotação e modificando de forma compensatória o movimento da escápula, o que chamamos de discinesia escapular. Essas alterações e suas consequências foram bastante estudadas, encontramos inúmeros artigos científicos sobre o tema, principalmente trabalhos com atletas de beisebol, esporte em que podemos reconhecer mais claramente as fases do arremesso e visualizar mais essas alterações.
O ombro do arremessador significa lesão?
Todas essas características apresentadas levam a um aumento da amplitude de movimento do ombro, levando a uma sobrecarga dos estabilizadores da articulação como os ligamentos, o labrum, o manguito rotador e a alterações capsulares. Isso faz com que ocorra uma subluxação dessa articulação durante o movimento, o que instabiliza o ombro e aumenta a incidência de lesões labrais como lesões do tipo SLAP, lesões por impacto e até à síndrome do “dead arm”.
Nesse ponto, quando ocorrem lesões, o atleta passa a ter perda de potência e velocidade do arremesso, podendo apresentar dor durante o gesto esportivo que pode evoluir para dor às atividades da vida diária.
Apesar do nome, o ombro do atleta não é exclusivo de atletas arremessadores, sendo comum em atletas que fazem movimento acima da cabeça incluindo nadadores, ginastas, jogadores de tênis e squash.
Apesar do nome, essas alterações não são exclusivas de atletas arremessadores, sendo comuns em atletas que fazem movimento acima da cabeça incluindo nadadores, ginastas, jogadores de tênis, beach tennis e squash.
Qual o tratamento para o ombro do arremessador?
O ombro do arremessador é um conjunto de alterações que ocorrem em forma de cascata, isto é, de forma progressiva e evolutiva. Por sua complexidade, devem ser tratadas todas as etapas do processo, assim como todas as alterações associadas.
Por isso o tratamento de escolha é não cirúrgico, com um programa completo de reabilitação e prevenção de lesões, centrado na correção das adaptações patológicas presentes. Dessa forma os pilares do tratamento na fisioterapia são:
– alongamento de cápsula posterior;
-mobilização e ganho de rotação medial;
– controle neuromuscular da cintura escapular associado à correção da discinesia escapular;
– avaliação do gesto esportivo para correção da cadeia cinética e desequilíbrios musculares de tronco, CORE e membros inferiores.
-analgesia e tratamento de dores e espasmos musculares associados.
A segunda etapa do tratamento é focada na prevenção da recidiva e no fortalecimento de toda cadeia cinética para retorno ao esporte:
– fortalecimento do manguito rotador
-fortalecimento dos estabilizadores da escápula
-fortalecimento não só da cintura escapular como do CORE ( abdômen, costas e pelve) e membros inferiores, imprescindíveis para a realização correta do arremesso ou gesto esportivo.
-por fim, treino do gesto esportivo com foco no movimento, no controle muscular e na potência do arremesso.
O que significa ombro em risco?
Algumas alterações do ombro do arremessador podem ser reconhecidas no exame clínico realizado pelo especialista e permitem o diagnóstico precoce dessa patologia.
Através de estudos biomecânicos, foram identificados em atletas arremessadores fatores predisponentes a lesões do tipo SLAP e lesões associadas ao ombro do arremessador.
Desses fatores, a principal alteração presente no ombro com risco de lesão no atleta arremessador é o déficit de rotação medial do ombro.
Quando observada diminuição de pelo menos 5 o de rotação medial do ombro em relação ao ombro contralateral, dizemos que o ombro se encontra em risco para lesão, daí a expressão: “ombro em risco”.
Desta forma, quando identificamos ao exame clínico o “ombro em risco”, já é possível identificar a retração da cápsula posterior e o aumento de amplitude articular do ombro, como aumento de rotação lateral em abdução e rotação externa (posição do arremesso), além de sinais de aumento de frouxidão capsular do ombro. A discinesia escapular também pode estar presente ao exame.
A partir desse diagnóstico, o atleta deve iniciar o tratamento fisioterápico de acordo com as etapas já mencionadas, independente de ter dor no ombro.